Management na música…isso existe?

Hugo Centúrio
4 min readOct 11, 2018

Notas tiradas no workshop de Gestão de Carreiras musicais com Keith Harris.

imagem retirada de AMAEI.ORG

Decorreu no dia 10/10/2018 no palácio Baldaya em Lisboa o Workshop de Management promovido pela Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes.

O convidado foi Keith Harris que conta com um curriculum notável de cerca de 45 anos dedicados à gestão de carreiras. Trabalhou com nomes como Marvin Gaye, Diana Ross, Stevie Wonder em empresas discográficas como a EMI e Motown.

Quis estar focado e atento à informação que alguém com a experiência como Mr. Harris se disponibiliza a transmitir.

Por isso tomei estas notas mentais e passo para aqui na forma escrita.
Não são necessariamente os meus pensamentos acerca destes temas, no entanto ajudam e muito na sua reflexão.

Começo de carreira

Ninguém aparece ao teu concerto porque ninguém te conhece.
Tens de tocar e tocar e tocar até acontecer alguma coisa.

Não recuses concertos porque não pagam o que estás a pedir. Expõe-te ao máximo de oportunidades.

Diz sim às oportunidades que aparecem. Nunca sabes quem poderá aparecer, que colaborações ou parcerias podem surgir da simples interação humana.

Ser famoso no teu quarto lá de casa não interessa a ninguém. Guardar as canções porque tens medo que as roubem não faz qualquer sentido. Podem não ser roubadas mas também ninguém as vai ouvir.

Só quando tiveres demanda é que terás poder de negociação, antes disso não tens grande margem de manobra.

Investe num especialista em redes sociais antes de investires num manager.

Aumenta os teus números e métricas online, cria buzz e só depois sai lá para fora.

Começa por fazer tudo sozinho e cresce organicamente à medida que te podes dar ao luxo (financeiramente falando) de arranjar alguém para te ajudar nos temas não criativos.

Não é necessário ter formação específica em gestão para poder singrar no meio. Ajuda sem dúvida a construir o networking que irás precisar no durante o teu percurso. Conhece as pessoas que hoje estão no mesmo patamar que tu e trabalha com elas. Os agentes atuais simplesmente não têm grande tempo para ti.

Eu é que sou o Manager

O manager ou gestor de carreiras serve de intermediário entre dois mundos, o musical e o de negócios.

Tem como tarefa saber falar as línguas deste dois mundos e fazer a ponte para que se consigam construir carreiras com sustentabilidade financeira.

Aprende a moldar o teu discurso. Existem pessoas que precisam que os trates como amigos e outras pessoas que precisam de um pontapé no cú para se porem a mexer. Faz parte do trabalho saber lidar com todos os feitos com o objetivo de levar o navio a bom porto. O manager é o capitão.

Como Manager, habitua-te a ser dispensado. Os artistas que representas têm o direito a mandarem-te embora. A analogia com o futebol é boa. Quando a equipa não ganha, despede-se o treinador, não os jogadores.

Enquanto artistas, estes apenas têm uma oportunidade na vida, ou dá ou não dá. Enquanto manager, tens várias oportunidades de trabalhar com várias bandas e artistas ao longo da tua vida e vais construindo relações pessoais que te vão abrir portas durante o teu percurso.

Existem decisões artísticas de âmbito criativo e decisões de negócio. Não mistures as duas.

Streaming e o futuro da música

O streaming ainda não resolveu a questão mais humana da música, que é a partilha de presentes.

As vendas de música aumentavam na época natalícia porque as pessoas ofereciam CD’s como presente.

Se houver uma forma de oferecer música como antes existia, de forma física, as pessoas irão aderir, consumir e oferecer ainda mais música.

Em comparação com o vídeo cuja qualidade tem vindo a melhorar ano após ano, o áudio sofreu do efeito contrário, hoje ouvir música é uma experiência com menor qualidade do que antigamente.

Ter a capacidade de contar uma história através da música é o segredo que o streaming ainda não solucionou.

A indústria da música sofreu uma recessão no início do século e está ainda em recuperação, mas ainda está em modo de sobrevivência. Tem de sair deste modo de pensar para poder construir o futuro da indústria.

Temos pouco tempo para experienciar a música como antes se fazia. Liam-se as notas e as letras das música que vinham dentro dos CD’s enquanto tocava o álbum numa aparelhagem HI-FI. A música já não oferece esta experiência.

Assumem-se demasiadas coisas em relação às novas gerações mas na verdade não existem definições estáticas e é preciso construir plataformas que ofereçam experiências alinhadas com o que significa ser humano. É aí que reside o futuro.

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Hugo Centúrio

Escrevo sobre música, veganismo, inovação, sociedade e afins // harmrecords.com // Go Vegan🌱or go bust