Arte e Inteligência Artificial

Hugo Centúrio
2 min readJan 16, 2023

“Não precisamos de Inteligência Artificial para fazer arte. Precisamos de Inteligência Artificial para escrever emails, limpar a casa e entregar as compras em casa para que os humanos possam fazer mais arte.”

Sem entrar na definição do que é arte, acho que esta afirmação é míope.

A Inteligência Artificial (IA) é apenas uma ferramenta e o seu uso não está nem estará de modo algum limitado à criação de arte.

Pode ser usada na criação de arte de forma a ajudar-nos a nós humanos, a fazer mais ligações e a gerar mais ideias, assim como sempre foi feito em todo o percurso artístico humano.

O que seria da arte se não tivéssemos inventado o pincel? Ou as telas? Ou a Camera obscura? Os DAW’s?

Existe uma dimensão que me parece pertinente questionar:

Para que serve a arte?

Se a arte faz parte da condição criativa de ser humano, se é na arte que vamos buscar inspiração, ideias, questionamento, interessa mesmo quem fez a obra? Quantas vezes uma obra artística nos inspira e nem sequer conhecemos o seu autor?

Vejo que há nas palavras iniciais uma alusão a um medo bastante comum aos luditas do século XIX, que é, a IA vai causar desemprego.

Será verdade que irá causar desemprego e isso significará a perda de rendimentos, que por sua vez significará acesso aos bens materiais básicos necessários a cada um de nós.

No entanto o que tem de ser questionado na minha perspectiva é exatamente esta questão da associação entre renda e trabalho.

O rendimento não tem de estar associado a trabalho, e basta pensar em como herdamos bens materiais sem termos trabalhado para isso, para perceber que não é necessariamente verdade esta ligação. Basta pensar que quem investe na especulação bolsista não tem de trabalhar para ter rendimento. Basta pensar em alguém que ganhe o euromilhões para perceber que não tem de existir correlação entre trabalho e rendimento.

O que sabemos é que a distribuição da renda e por consequência de acesso a bens e serviços tem de ser questionada. Sabemos o nome da estrutura social responsável pela crescente desigualdade entre humanos, sabemos como o jogo está desequilibrado mesmo antes de nascermos, sabemos que o incentivo é ir em direção ao monopólio, sabemos demasiado bem as motivações do capitalismo.

E também sabemos que existem alternativas que deviam estar a ser debatidas ao invés de colocar a IA no papel de mau da fita.

O tempo para um Rendimento Básico Incondicional (RBI) é agora, o desemprego tecnológico está a acontecer agora e é agora que temos de arranjar forma de o colocar em prática.

Seja qual for o modelo de RBI é importante seguir esse caminho através do seu debate, da exposição das pessoas a essa ideia porque a alternativa será mesmo termos de concordar em acabar com toda a tecnologia porque ela causa desemprego…

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Hugo Centúrio

Escrevo sobre música, veganismo, inovação, sociedade e afins // harmrecords.com // Go Vegan🌱or go bust